24.4.03

Tê mais 11 horas e troca-o-passo

Et voilà!
Acordei entre duas loiras, marca Estrella Damm, que é o que convém a um jovem trintanista.
Enquanto esfregava furiosamente a dentuça e a língua - nunca mais aprendo que o hálito a bejeca não desaparece por erosão -, ligou-me a amiga Tangerina. Descobri, aos 30 anos, que sou multitask!
Foi a primeira interrogação do dia: será que com os 30 um gajo se torna multifunções? É que lavar os dentes e manter um diálogo é obra...

No metro, à vinda para o trabuco, reparei nas parangonas dos dois desportivos cá do burgo:
- «Tiembla, Itália» [As] («Treme, Itália»)
e
- «El Show de 'Ro'» [Marca] («O Show de Ro[naldo] - em alusão/trocadalho ao programa de um humorista espanhol, chamado «El Show de Flo»)

Estou a léguas de ser um adepto da bola, um hincha, como se diz cá pelo topo da meseta - mas os títulos dos diários desportivos no dia a seguir a um encontro que vá-se lá saber porquê é de suma importância, sempre me chamaram a atenção.
Assim se vê, não a força do PC, mas o poder da bola: faz tremer países inteiros, desloca tectonicamente programas de televisão. Estes jornais serão, sem sombra de dúvida, a coisa mais desmemoriada que já se imprimiu. Há fortes probabilidades de há quinze dias (ou menos) terem abananado o protuberante Ronaldo, diminuindo-lhe o futebol ao tamanho das duas tacholas que carrega na boca; hoje, nada disso importa. Marcou uns golos, é o máióre. Faz tremer a venerável Itália e leva para as quatro linhas um programa inteiro de TêVê...
Em contrapartida e por outro lado, a bola tem o dom de mostrar que os passas (palavra que inventei depois de lavar os dentes e enquanto... enfim; "passas" designa pacifistas) afinal não se distinguem do Saddam ou do Bush. Na bola e nas manifs - estão por todo o lado.
Se a coisa corre menos de feição, perdem a compostura, e passam de fãs a fanáticos em menos de um fósforo.

Começo a achar que os "espanhois" se estão a tornar menos tácteis. Pu-los entre aspas, apenas porque a amostra é a tropa que trabalha no mesmo sítio que eu. Digo menos tácteis porque, como sou um eterno optimista, esperava ser beijocado com profusão pelas guapas aqui da xaranga.
Quatro bejufas. Quatro.
Dois ou três apertos de bacalhau.
Meia dúzia de «Felicidades!» atiradas a meio tom por cima de duas mesas.

Que contabilidade mairranhosa!
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Não sei se agradeça à Ana Albergaria ou ao Herberto Helder: se o HH não tivesse escrito o poema que ela me dedicou no Pastilhas, teria ela podido dedicar-mo? É relindo, acelerou-me o pacemaker e, se me descuido, quase me faz saltar uma comoção.

O Hank Chinaski e a Zazie - e até o Saddam - chegaram a esta festa para me ajudar a limar as arestas dos redondíssimos 30. Parece-me que entraram a bailar a magnífica banda sonora do Joe Dalton. Mister Dalton: bem sei que o ano de colheita do "Closing Time", do Tom Waits, é excelente; mas não vamos confundir uma obra prima com a prima do mestre de obras - o melhor álbum do TW é o "Nighthawks At The Dinner"! ;-)

Mil abraços, zil bejufas, trinta obrigados por cá passarem e me alegrarem ainda mais a trintena!

Avé!
alter-lego

P. S. - A bombérrima Charlotte é um poço de sabedoria clássica; desejou-me longa vida em grego, qué pra eu aprender. Ora vejam: xrónia pollá. À letra, traduzir-se-ia por «anos muitos».
Idem, idem, miss C!

Adenda: obrigado pelas correcções, Charlotte!

23.4.03


Tê menos 10 horas e uns pozes

Por decreto municipal, a festa irá prolongar-se até segunda de manhã. Em latitudes ainda a designar.

A Air France e a British Airways estão engalfinhadas: ambas me ofereceram uma viagenzeca à volta do globo, para celebrar em todos os fusos horários o rotundo e tríptico número 30.
Também fui contactado pelo Maradona, que me ofereceu umas peças de arte de proveniência incerta, mas sublinhou que em Bagdade eram muito mais caras e difíceis de conseguir.
A Ana Albergaria quer à viva força fazer a reportagem desta festa cigana, mas exige vir vestida de camuflado e com livros para distribuir.
A lena pergunta-me se pode abanar a tropa que estiver com calores, com o seu vastulec.
O John Difool, acompanhado do amiguete Ivan, tamborila os dedos e aprecia tudo, do outro lado do Atlântico.
A Charlotte prometeu-me a tradução desta beluga para Latim e Grego Clássico.
O MacGuffin insiste que faça-se o que se faça, tem de ser inclinado para a direita e que não vem se houver cor-de-rosa nas decorações.
A Tangerina já está de caneta em riste, soltando «hmms...» e «continue, continue...» - como boa psi - e prepara-se para fazer a folha à malta, aproveitando a sessão de terapia de grupo.
O Joe Dalton será o DJ de serviço e trará a sua colecção de vinis ultra-raros (e umas revistas em condições, à séria, daquelas que se faziam antigamente).

E há mais, muitos mais!
Como amanhã não os vou ver, nem ser beijocado, nem abraçado resolvi convidá-los para esta festarola imaginária, na espaçosa barriga desta beluga sem Norte.

Avé!
alter-quase-quase-30-lego

22.4.03


Tê menos 34 horas e qualquer coisinha

A segunda-feira converteu-se em terça-feira. A Páscoa, naquelas termas, foi tudo menos santa. E, convém que se diga em abono da verdade, muito pouco termal.

Houve quilómetros de piscinas feitas entre dois almofadões, banhos turcos de SIC Notícias, muita massagem ao ego com os cumprimentos da Superlativa.
Houve sacrifícios de cabritos, oferendas de ensopados de borrego, peregrinações infinitas ao bar do templo.

Termas, OK - ma non troppo.

Estou a umas quantas horas de sair dos «intes» e entrar nos «intas». Nunca cheguei a perceber por que razão a malta do Cabo Canaveral põe naquele contador pré-lançamentos o «Ti minus» xis horas, minutos, segundos. Ou, mais bem dito, qué coño significa o «T»? Agradece-se sugestões - já que não estou muito voltado para pesquisas sobre o tema.

Começo amanhã a despedir-me dos 29, num salto quântico para os 30 que deverá terminar lá pra sexta-feira. Haja festa, poizentão!

[Isto é mais para ir avisando que não contem com muitas postas desta beluga durante esta semana. Trinta anos exigem preparação!...]

Avé!
alter-lego

16.4.03


Hoje só segunda-feira

Que me desculpem os inúmeros leitores desta humilde beluga (serão praí uns três), mas eu vou de termas.
Sim, termas. Não, não tenho nenhuma pedra nos rins, nem cefaleias espongiformes ou cefalópodes cunilingus ou lá como é que se chamava a treta da doença.

Aproveito que os nuestros hermanos duplicam a santidade dos dias pascais - há puente amanhã e depois - e raspo-me pra Monfortinho.

Bejufas, abracinhos e não se esqueçam de comer muito cabrito, empurrado com pão ázimo e devidamente servido numa daquelas colchas que os árabes usam ao pescoço e cujo nome me escapa neste momento.

Avé!
alter-lego
O gay decapitado

Não bastava terem assassinado o homem com meia dúzia de balázios à queima-roupa...
Não bastava o governo que resultou das eleições do ano passado na Holanda ter caído pouco depois...

Poucos dias antes de se conhecer a sentença do assassino de Pym Fortuyn, transportavam uma estátua sua (do político, não do assassino) que deveria ser plantada numa praça ou num jardim, ou lá o que era.
O condutor não devia ser lá dos mais jeitosos ou deve ter batido todas as capelinhas da skunk antes da empreitada...

O resultado, donzeis, está à vista:

de cabeça perdida...


[Consta que quem se está a rir é o homicida, Volkert van der Graaf - não tem muito por quê, já que levou com 18 aninhos de choldra. E, se há justiça e as prisões na Holanda forem como nos filmes amaricanos...]

Avé!
alter-lego
Curta, grossa... e em surdina

Hoje, ao que parece, é o Dia Mundial da Voz. E eu afónico...

Avé!
alter-lego


Madrid é um verbo

[a propósito de um comentário do MacGuffin, da beluga Contra a Corrente, num dos posts uns degraus abaixo]

Madrid...
Madrid não mata - engorda! De todas as vezes que tentei (e já tentei umas quantas) ir ver o Guernica ou, mais recentemente, a exposição do Vermeer que está no Prado, sempre se me atravessa um bar de tapas pelo meio.
Há, definitivamente, uma conspiração cósmica para me manter afastado das energias culturais e colado aos centros de produção de energia em geral. Enfim, morrer não hei-de; e tenho a sorte de ter feito por cá bons amigos e conhecidos, e vou-me "instruindo" fora dos museus. ;-)

Madrid é um verbo. Eu conjugo-o como "madrir". [É isso, é isso! - digo como que pensando].

É como carpir mas visto do outro lado do espelho: tudo é mais alegre, mais movimentado, mais opinativo.
Pode-se madrir em várias línguas e distintas latitudes; madran principalmente sul-americanos, mas é vê-los madriendo aos africanos, a outros europeus, e até mesmo alguns hindus e árabes.
Quem mais madre, naturalmente, são os espanhois. Não tenho notícia de muitos que sejam de cá, realmente de cá - entre as várias perguntas de circunstância que se trocam como galhardetes quando se trava conhecimento com alguém, consta da cartilha a sacramental «de onde és?», traduzida depois em regiões de Espanha, em cidades importantes ou nem por isso, e em pueblos castiços que os originais quase sempre veneram.

Nunca madrirei esta cidade em espanhol. Madri-la em português, pelo contrário, é uma condição a preservar (e a única possível).

Madrid - a segunda pessoa do plural no imperativo - é isso mesmo: uma ordem inaudível dada a uma mancheia de milhões de seres humanos para alimentarem a urbe e dela viverem, nas suas harmonias e desencontros.

Se quiserem aprender a conjugar o verbo madrir, inventado como só ele, está aqui a lição toda-todinha.

Avé!
alter-lego

15.4.03


Os erros fatais do amante italiano

ROMA, AFP
Las italianas no soportan que los hombres respondan al móvil cuando hacen el amor, utilicen "slips" o huelan mal, según un sondeo.

El sondeo, publicado en la revista Men's Health de abril en Italia, revela los errores más frecuentes e imperdonables del amante italiano, tras consultar a 683 italianas de 15 a 64 años.
La tercera parte de las italianas aprecia que los compañeros apaguen el móvil antes de hacer el amor, y el 12% considera "inaceptable" que responda.
Tres cuartas partes de las mujeres interrogadas admite que no soportan estar con un hombre que tiene un olor desagradable, y dos tercios no perdona a los que las llaman con otro nombre de mujer.
Los italianos que se atreven a compararlas con una ex amante o que piden que los comparen con la capacidad sexual de otros compañeros tampoco son bien vistos por la mitad de las interrogadas.
Los calzoncillos largos o "boxer" figuran entre los favoritos, mientras el "slips" es aceptada sólo por el 3,4%. Además, el 20% critica que su compañero se gire al otro lado para dormir.
Al final, según el sondeo, el hombre romántico es el preferido por la mayoría: sabe crear una ambiente agradable, escoger la música apropiada y servir una copa que seduzca.


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Isto das sondagens e da estatística tem sempre muito que se lhe diga [se eu como um frango e tu não comes nenhum, papamos meio frango cada um: diz a estatística]...

Por partes:

- Haverá dois terços de italianas para quem é indiferente se o seu amante apaga ou não o telemóvel antes de pinocar; o pior, a meu ver, é que rondará os 88 pontos a percentagem de mulheres italianas que não se importará que atendam chamadas enquanto... pois, isso.

- Uma quarta parte das italianas não se importaria muito de estar com um homem cujo odor é insuportável (!?!??!)

- Pelo menos um terço delas não se queixa se lhes for chamado outro nome na cama.

- Para cerca de 80% das madonnas é igual ao litro se o tipo com quem estão nas cambalhotas adormece imediatamente a seguir à festa - e até consideram normal.

- Conclusão geral (e que já toda a gente sabia): os "slips" - a boa-velha cueca - estão fora de moda.

Com a fama de sedutores que os italianos têm - e, é verdade, as italianas também -, digam lá: caiu um mito ou não?

Avé!
alter-lego

14.4.03


Que bem que se está no campo

Hoje, segunda-feira de péssimo acordar, estou mais contrafeito que um peru em vésperas de degolação. Contrafeito, agora que penso, pode atirar para «contrariado» e também para «falsificado»; decido-me pela segunda via. Hoje estou falsificado. Não dou uma prá caixa. Também poderia escrever «Não dou uma»: estaria igualmente certo.

O melhor do mundo - desengane-se o poeta - são os amigos. Eis uma missiva breve e brava de um dos meus mais queridos. Tem de ser ele, que hoje nem mereço respirar, quanto mais blogar...


«Pinhocas,

como vai a vidinha? Tou aqui a fazer um intervalinho na labuta diária e nada melhor do que pôr a cumbersa em dia. O branco da neve desaparece do cimo da estrela mas desce para as cerejeiras em flor do Fundão: é um espectáculo de flores brancas, pá!!! A floresta continua com o discurso miserabilista do "coitadinhos de nós", herdado de Salazar, e que, ainda nos dias de hoje, faz com que o horizonte desta gente seja o muro dos seus quintais! Desconfiados que somos por natureza, com a agravante de sermos herdeiros de uma tacanhez quase esquizofrénica, a imagem de inovação e espírito empreendedor que damos é a de um zé povinho a correr sem sair do mesmo sítio, bradando, de veias entumescidas, contra a má sorte dos deuses e arremessando caralhadas avulsas contra os governantes. Dá a sensação que ficamos sempre à beira de um qualquer golpe de teatro para sermos grandes: o país segue dentro de momentos. Quanto à importância dada à comunicação, a única marca da sua utilidade são as letras pretas mascarradas no cú, quando umas providenciais folhas de jornal salvaram o zé povinho da porcaria que poderia provocar uma caganeira súbita no meio do pinhal. Construído o totem castanho e fumegante no meio dos pinheiros, engalanado no topo com uma trágica primeira página, sobra a cumplicidade das moscas ou a fúria dos incêndios florestais para vingar a humilhação.

(entretanto, fiz um intervalo nesta missiva e recebo um beluga-mail...)

Excelente ideia a da beluga, meu caro: nada como desatar os nós dos dedos e teclar furiosamente a vida... ah, ganda pinheiro!!! Vou tentar ser assíduo no teu diário.

Abraços beluguistas e sopa de peixe para o jantar ;-)

Bruno»


Este jovem é ou não um visionário? Digam lá. A sério.

(Vou para dentro, que estou a ver tudo à roda... Contrafeito estava mazé o Jameson de ontem... Fónix!)

Avé!
alter-lego

11.4.03

Umas quantas considerações, soltinhas que é como se gostam:

- À falta de vocábulo nacional para "blog", decidi submeter a sufrágio - a uma amostra reduzida, mas cuja massa cinzenta equivale a um universo ou dois - a palavra beluga. Tem pinta, é sonora, aquática quê-bê para invocar a nossa sina Atlântica e põe logo na mesa umas tostas com caviar. Beluga. B-e-l-u-g-a.
Não é que o dicionário me trai? Não é que me está a dizer que é "beluca", com cê, e não com guê? Isto admite-se?
Certo ou errado, o nomezinho anda em sufrágio. Pode ser que pegue...

- Ando buscando (estas duplas acções são do melhor!) uma forma de criar um menu com mais belugas pró cardume; além dos comentários simpáticos que quatro excelentes pessoas deixaram na mensagem anterior, o MacGuffin mandou-me um piropo no seu bloing, que é contra-a-corrente (ele gosta imenso de remar nesse sentido) e há mais uns três, pelo menos, que devo listar. É cuicare, faxabor:
. Bomba Inteligente => Se explode em determinadas circunstâncias, desconheço, mas algo me diz que sim. Que é uma mulher inteligente e com um sentido de humor particular, não tenho dúvida. Atenção aos momentos em que cita o inexcedível Carlos Quevedo.
. A Causa Foi Modificada => Não interessa qual é a causa, nem o porquê de ter sido (ou não) modificada. [rufam tambores....] Eis o maradona, com éme minúsculo como o seu metro e setenta e dois, e um talento para dizer coisas muito sérias da forma mais disparatada e divertida que existe. Se não embirrasse tanto com o José Manuel Fernandes, talvez já tivesse a sua colunita no periódico.
. A memória inventada => O ecletismo e a duplicidade reinam. John Difool e Ivan Terraqueo (que podem ou não ser a mesma pessoa - não interessa, para ser sincero) é um fixador de polaroids: e escreve-as como ninguém. Gostava de ser «mentiroso desterrado», mas acho eu que é tudo fita.

A todas as outras belugas que deixei de fora: não se zanguem, que não é propositado. Queixem-se-me: tratarei de vos ir arrebanhando por aqui (acardumando seria mais indicado, mas não estou seguro de que o verbo exista).

Avé!
alter-lego

10.4.03

Querida mãe: Decidi ir viver para um filme

Para quem cá chegou há exactamente três meses e cinco dias, estes "Diários" devem muito à blogosfera - e aos cadernos pautados de capa preta, e às folhas soltas, e aos guardanapos de papel dos cafés (que cá em Espanha não se prestam a devaneios; rasgam-se facilmente ao menor contacto com esferográficas).

Gostava que os "Diários" fossem mais imaginação do que realidade.
A realidade, francamente, aborrece-me - e prefiro um bom cozido a mais uma conversa sobre o Iraque, o papel dos Estados Unidos no mundo, os conflitos israelo-árabes, a situação político-financeira de Portugal e todos esses infindáveis temas que resultam quase sempre em nada, algumas vezes em pouca coisa.

Tenho uma carta engatilhada há anos que nunca passou da primeira linha. É dirigida à minha mãe - que, coitada, não tem culpa nenhuma, nem de nada.
Começa assim:

«Querida mãe,

Decidi ir viver para um filme.»

Nunca lhe dei continuação porque achei que mais do isto não podia avançar, seria salgar arranhões - e porque qualquer um compreenderia à primeira a missiva, sem necessidade de maiores explicações.

Este é o espírito que quero prosseguir aqui. Um mundo aos quadradinhos em que a realidade só de vez em quando entra, em que os heróis são sempre heróis menos (ou quererei dizer «mesmo»?) quando fazem merda, em que os vilões vão à missa - para controlar as velhinhas e galar a caixa das esmolas, com a desculpa esfarrapada da busca da redenção.

Mil vezes uma feijoada à transmontana, a meia dose de debates parlamentares. Outras tantas um poema, a um manifesto neo-social-liberal. E mais ainda um abraço, a três - ou 30, ou 300! - opiniões bem fundamentadas.

Já sabem, pois, que a realidade me dá erupções cutâneas. Tenho como hobby pensar que hobbies gostava de ter, sem nunca me decidir por nenhum.
Sempre fui melhor a recolorir o que me rodeia do que a interpretar o cenário: e já que as circunstâncias nos obrigam a ser pragmáticos a esse ponto no dia-a-dia, porque não dedicar-me aqui a ser a tecla de standby, a limpar os dedos ao teclado antes de entrar e pôr a vidinha em banho-maria?
É isto, portantes.

Creio que era o Álvaro de Campos que também tinha assim umas azias existenciais, de vez em quando. Traduzia-as era infinitamente mais bem:
«Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.»

Avé!
alter-lego

P.S. - A esferográfica foi inventada em 1906 por um croata chamado Slavoljub Penkala.

7.4.03


1-2-3 experiência! 1-2-3 experiência!...